1º Café Literário Aceib-DF
Data: 28 de novembro às 9hs.
Local: E.C. 102 Sul
Só de sacanagem!
Autora: Ana Carolina
Meu coração está aos pulos
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam, entupidas de dinheiro...
Do seu, do meu dinheiro, do nosso dinheiro;
Que reservamos duramente,
Para educar os meninos mais pobres que nós;
Pra cuidar gratuitamente da saúde deles, dos seus pais...
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade
E eu não posso mais
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz,
Mas, não é certo que a mentira dos maus brasileiros,
Venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro
À luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
“Não roubarás”!
Devolva o lápis do coleguinha; esse apontador não é seu, minha filha!
Pois bem, se mexeram comigo,
Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
Então agora, eu vou sacanear.
Mais honesta ainda eu vou ficar,
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba”!
E eu vou dizer:
Não importa, será esse o meu carnaval:
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho, meus amigos...
Vamos pagar limpo a quem a gente deve,
E receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
E eu direi: Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito: Ouviram? I-mor-tal!
Sei que não dá pra mudar o começo,
Mas se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.
1º Café Literário Aceib-DF
Data: 28 de novembro às 9hs.
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O gigolô das palavras
.....................Autor: Luis Fernando Veríssimo
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com as suas afrontas às leis da língua e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão!", "Culpa da revisão!"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
............Respondi que a linguagem, qualquer linguagem é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover...Mas aí entramos na área de talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
............Claro que eu não disse tudo isso a meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isto eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltratando-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
............Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria importante, impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.
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AMADURECER
Autor: Eduardo Rangel
Se um dia eu perder meu olhar infante
Já fiz a minha laje tumular
Aqui jaz um jovem muito ignorante
Mas que nenhum instante deixou de cantar
Melhor do que ter esperança pouca
E como mecê só quer passar sermão
Pensando que adoça o amargo na boca
De ter dentro ao peito tanta frustração
‘Madurecer... eu não!
Quando eu vou à luta ‘cê me segura
Me pede um pouco de sensatez
Empresto um quinto da minha loucura
Garanto que cura o teu medo de vez
Se não fosse o jovem ingênuo, tolo
Cegado por luzes do coração
Quem é que ia lá botar mais um tijolo
Em tanta minguada e vital construção?
‘Madurecer... eu não!
‘Cê vem me falar com o olhar sereno
Que isso é besteira de adolescente
E que hoje destilo o meu veneno
Que quando pequeno empestou sua mente
Mas olha que tudo que amadurece
Balança no galho e despenca ao chão
E o grande detalhe que mecê se esquece
É que os vermes adoram essa refeição
‘Madurecer... eu não!
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COTIDIANO
Autora: Kelly Vyanna
A poesia não me encanta mais.
Por que será, meu Deus?
Será que não tenho inspiração?
Onde ficou presa a minha voz?
Não me encanta a poesia
Mas a vivência do dia-a-dia.
O passar das horas
São os versos inescritos
Dos risos e dos gritos
Dos amores e das dores
Não me importa a poesia
O que interessa é o jornal
A notícia, o concurso, o emprego
Versos não me encantam mais
É o viver, competir e vencer
É o sossego ao anoitecer
O emprego ao amanhecer
Poesia, pra quê?
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SONHAR EM SECRETO
AUTORA: MARIA MONTILLAREZ
“Um sonho que se sonha só é somente um sonho que se sonha só. O sonho que se sonha junto é realidade”. (Rede Globo – Criança Esperança)
Nada mais equivocado do que a frase acima.
O sonho compartilhado esbarra em duas correntes: na da tradição, a corrente dos invejosos; no capitalismo, a corrente da concorrência.
A vida já me mostrou que “sonhar é viver”. Todas essas frases preconcebidas têm base na realidade. Um sonho é algo real, porque sem sonhos a vida perde o sentido. Acredito que “O segredo é a alma do negócio”. Quanto mais valioso é o sonho, mais secreto ele tem de ser mantido. Defendo essa atitude, embora pratique-a pouco; infelizmente não está em minha formação e é difícil se reconfigurar. Talvez por isso eu tenha muitos sonhos copiados, reprimidos, frustrados.
Assim, do fundo dessa alma “ensonharada” eu aconselho: se você tem um sonho, e ele é muito, muito essencial para você, realize-o primeiro, se possível ou morra tentando. Se acaso morrer tentando, lembre-se de levar seu sonho consigo, para o túmulo, pois os invejosos e/ou a concorrência não merecem saber que você realizou seu sonho ou que você o guardou consigo. A história conta que, por um bom sonho, há quem viole até sepulturas.
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